Copos D'água

Copos D'água

3 de julho de 2010

Dos corpos-imã ao primeiro engano.

Meu caro,
Estou escrevendo essa carta sem o intuito de mandá-la. No momento, o orgulho que me prende de falar contigo é maior do que a real vontade que me aflige, então decidi que vou colocar minha alma nesse papel branco endereçado a ti, e que se algum dia eu resolver que você deve mesmo saber de tudo, só vou precisar entregar todas essas palavras que agora eu desenho.
Pra começar, eu não sei como te chamar, ou como me dirigir a você.. "meu caro" parece suprir a certa formalidade que ainda existe entre a gente, e também a intimidade que nos é devida, depois dos momentos de completa vulnerabilidade que passamos juntos, levando em consideração os espamos dos nossos corpos-imã e algumas palavras proferidas sinceramente e com completa intensidade. Também não sei onde você se encontra agora.. se bebe sozinho o líquido que te faz esquecer da vida, ou se brinda com terceiros a não existência de uma paixão que te prenda a si mesmo. Apesar dessa minha falta de consciência sobre que papel você representa agora, a minha única vontade era a de saber se a noite você pensa em mim, ou não.. Se como eu, coloca a cabeça no travesseiro e repassa cada minuto de mãos-dadas e olhos nos olhos, respirações ofegantes e vai-e-vens ininterruptos, em que o mundo de fora parecia não existir e o vento criava uma atmosfera só nossa... A impressão de que o Universo conspirava a nosso favor me é nítida desde a primeira vez em que meus lábios puderam tocar os teus, e quando eu senti um arrepio incontrolável na espinha durante aquele momento inesperado, que parecia na verdade ter sido proibido por décadas de acontecer... e que no momento quando finalmente se fez concretizado, explodiu do jeito mais devastador possível. Eu sentia o desespero na tua falta de fôlego e nas minhas mãos que não se contentavam em ficar paradas em ti por mais de alguns segundos.. Pensando bem, acho que foi mesmo ali onde o pecado se iniciou, e onde as raízes que devastariam meu chão começaram a se debater. Durante aquela hora em que te descobri, me perdi em mim, mas ainda não o sabia..

(Me retiro agora pra um cigarro e um ar.. se a Lua puder ser ajuda para alumiar meus pensamentos, tento acabar logo essa carta quando estiver de volta)

2 comentários:

Anônimo disse...

quem quer que tenha escrito isso, confesso que fez-me quase chorar, e lembrar de um tempo bom em que cartas como essa escreveria todas as noites, derramando as mesmas palavras e debulhando brilho intenso que ardia como fogo, e como fogo apagou. às vezes me pergunto se prefiro o arder que de tanta dor me colocava louca, ou se já me contendo com o cheiro seco de umas cinzas esquecidas debaixo de uma lua que já não brilha igual.

Vanessa Yazbek disse...

me resumo em dizer que é bom saber que minhas palavras conseguiram te tocar de alguma forma.. a intensidade dói, e é também o que faz com que nossa vida tenha uma beleza acima do comum..
mas eu entendo quando certa apatia toma conta.. queria conseguir mais vezes não ver tanto brilho na lua, como você, e sentir um pouco mais de indiferença em relação ao mundo. estou caminhando à isso.