Copos D'água

Copos D'água

25 de outubro de 2010

Uma pílula pro meu copo d'água, por favor.

Dra.,
Deixei de escrever há tempos, eu sei... as horas me foram tomadas pelas coisas mundanas, e meus rodopios internos acabaram ficaram de lado. Não consigo compreender o que aconteceu nesse meio tempo em que permaneci em silêncio, tantos altos e baixos devem ter culminado num trauma que afetou ambos os pólos, e agora nenhum dos dois mais se manifesta.
Senti nesse momento uma urgência de lhe desenhar algumas letras, pois me vi mais doente do que nunca e percebi que não consigo me salvar sozinha. Na realidade, acho que o início se deu como uma doença auto-infligida, mas o fato é que agora eu perdi completamente o controle sobre ela.
Estou aqui, da forma mais fria possível, pra relatar o que se passa..

Eu simplesmente não sinto mais.

E é um sentimento estranho, esse do não-sentir.. Às vezes é mais cômodo sentir as coisas com menos intensidade, mas o não-sentir assim, por completo, ninguém quer.. Então quando você se dá conta de que está imerso até a cabeça nessa apatia, você chega quase perto de um esboço de tristeza.. Mas é uma tristeza tão débil e volúvel, que acaba se assemelhando às horas de felicidade, que são tão volúveis e superficiais quanto.. E no fim das contas, tudo se torna parecido dentro de você, e nada é sentimento, de fato. São só rascunhos, faíscas, que duram ínfimos momentos, e que passam sem impacto nenhum, pra logo retornar à neutralidade.
Não sei se estou conseguindo me fazer entender, eu já não possuo a mesma expressividade de antes, e acho que perdi o jeito de lidar com as palavras.. Eu já não as entendo mais, e nem o contrário. Minha cabeça é um estado permanente de quietude, e minha alma perdeu a intensidade, como um silêncio sepulcral, parece que a apatia causou a morte dos meus sentidos, e que meu corpo age maquinalmente por si só.
Eu não sei se isso tem cura, mas se você puder me receitar alguma pílula que desperte qualquer coisa aqui dentro, eu agradeceria.

Sinceramente,
Ana