Copos D'água

Copos D'água

1 de agosto de 2009

Das coisas que passaram despercebidas - I

Ana se dizia uma desacreditada no amor. Estava sozinha, enrolada com mil pessoas, consigo mesma.. não encontrava uma estabilidade e nem mesmo a queria, por achar que o estável culminaria, indubitavelmente, numa prisão. Se entregava, porém, ao que parecia ser qualquer e toda forma de amor sincero e livre que encontrava por aí, enquanto maldizia o sentimento para o vento, tentando se convencer do que falava..

Vitor, tratava o amor da forma como ela menos podia suportar.. não admitia que estava à procura dele e nem se dava espaço para vivê-lo. Achava mesmo que sua auto-suficiência era o bastante e que seria (quase) impossível encontrar o amor novamente. Ele se convencia disso profundamente, todos os dias, e não deixava transparecer a mínima fraqueza para os outros ou para si.

Ela olhava pra ele sem o mínimo interesse.. Ele também.

Por tempos não passaram de dois bons conhecidos que dividiam certos gostos em comum.. conversavam sobre o tempo, sobre música.. e era só até aí que os poucos minutos que resolviam dividir com uma conversa, os levava. Nunca falavam sobre os sentimentos, sobre o mundo.. nunca deixavam que o assunto os penetrasse mais do que o superficial, ou que um olhar fosse além do vazio mundano.

Tentavam se aproximar com abraços repentinos, em demonstrações inesperadas de carinho, quando havia alguma brecha na barreira de concreto que cada um havia criado pra si...e era bom. Tão bom! Mas não sabiam explicar exatamente o porque.. e nem sequer queriam tentar. Se tentassem realmente, iam cair numa indagação profunda sobre o que acontecia entre eles, e isso culminaria em algum dos dois indo embora, sem pensar pela segunda vez.. por medo, por auto-defesa.

Era melhor que as coisas ficassem assim, no não-explicado, no não-dito e feito..