Copos D'água

Copos D'água

12 de maio de 2010

Aos desavisados.

Não pude deixar de pensar nela.. aquela famosa imagem dos Beatles em que eles pulam em meio à um vasto gramado, me saltou aos olhos. Era sua preferida, por lhe remeter à leveza e a felicidade que todos os dias buscava. Pode parecer piegas, mas a forma como ela descrevia a felicidade me soava tão rara e verdadeira, que de fato cheguei a acreditar que ela tinha decifrado qual era sua fórmula, e eu me deixava encantar por isso (mal sabia que eu depois viria a descobrir que essa felicidade da qual ela tanto falava, não passavam de paráfrases e aspas de alguns outros que provavelmente também não sabiam..). A imagem me trouxe-a à mente, e dessa vez, pela primeira, eu me deixei vagar pensando nela, e em tudo que havia acontecido desde então.. Suas feições agora me eram vazias, como se tivessem perdido a cor e a intensidade. Era um quadro velho, gasto, pelos quais se passa e não se percebe.. Ela tinha perdido o cheiro, o gosto, o tato, e qualquer reminiscência de sentimento que podia existir em mim. Não me tocavam mais suas angústias, seu sorriso era amarelo e forçado, daqueles que escondem uma vergonha da qual não se quer lembrar. Eu recordei daquele falso amor pelo qual eu me deixei levar, e que hoje me parece ter sido tão enlatado e conveniente.. Era conveniente, na época... hoje, não mais, então se descartou como lixo, coisa gasta, inútil.. Seu riso parecia ecoar na minha cabeça, estridente, uma vitrola desafinada. Suspirei.. Me deu pena. Pena daqueles que não sabem amar, e que se perdem tragando como loucos o cigarro de uma paixão inexistente que parece amor, e que parece real, e que parece pra sempre. Pena dessa falta de amor próprio que existe nela, em você, no velhinho sentado na esquina do lava-rápido. Mas não culpei esses tantos desavisados.. só olhei pro espelho e pedi: "Que consigam se levantar da queda.." - Porque eu não estarei mais aqui.