Copos D'água

Copos D'água

9 de dezembro de 2008

Meu caminho se faz em meio à névoa, neblina que não dissipa, e esconde o horizonte.
Não há ninguém por perto, e a não importância disso pra mim é o que me preocupa. Se o que acontece é que estou morrendo aos poucos, de olhos abertos, em plena consciência.
O toque me causa repulsa e o calor me enoja, apenas a sensação de ter o abismo em volta me acalma. Nasci para andar em meio ao cinza, ter os pés livres, tateando o desconhecido. Não há caminho que se siga em dois, pois o medo não existe quando alguém segura sua mão. E é só com o medo, porém, que se atinge a plenitude do conhecimento, da experiência. É só o medo que impulsiona uma ação.
Prefiro caminhar assim, sozinha. Tenho como companhia meus múltiplos 'eus', minhas experiências, meus olhos, meu pés, a falta de chão, a névoa, o frio.

11 de outubro de 2008

Em êxtase, te mantenho presente em pensamentos. Em meio ao desatino, te espio dormindo, me envolvo nos seus sonhos e, de tão inebriada com o seu perfume, me faço tonta...perdida em meio à desejos loucos, sambando sempre de um caminho à outro. Me visto de desentendida quando percebo que o toque dos seus lábios já não é mais o mesmo, ou que sua mão já não procura a minha. Esse tato falho que eu tanto almejo, que imagino quando fecho os olhos, que sinto com a brisa quente que passa, arrepiando o âmago, entorpecendo. Seu 'mal-me-quer' é como falsa brincadeira, que de tão inocente, se faz irremediável verdade. Se me engano e finjo que há de florescer, faço a extensão daquilo que eu queria que fosse, e exatamente aquilo que sei a terra não vai me dar. Uma flor murcha não há de reviver, e ela se torna simplesmente uma não-flor. É 'não-flor' pois nela não há beleza, e sendo assim não lhe cabe a admiração digna que faz das flores, flores. Mas é apenas 'quase' pois o fio de esperança que existe para que ela renasça se torna uma espécie de admiração, sincera, mas não por ela em si, e sim pela flor que ali haveria de existir. E é essa flor, que um dia tão vistosa dormindo na sua lapela, se despedaçou, enquanto, em prantos, se desfazia também o amor.

14 de setembro de 2008

Antes que o sol apareça
E com ele se vá a razão,
Naquela pilha, as cartas, bilhetes,
Uma rosa vermelha no chão

Minha mão que já não mais sente
Sem tato, seu corpo macio
Amante de tantos sofreres,
Me diga por onde partiu.

Restaram das taças, do vinho
Que um dia selaram amor,
A mancha, pedaços de vidro
Jogados no chão com rancor

Me rasga a carne, essa ponta
Que a dor supere a razão
Espero que a noite não passe,
Não antes que os sensos se vão

13 de setembro de 2008

Vida,
Meu pranto alivia,
É tanto, minha cama vazia,
Me diga que tanto fazia
Enquanto essa alma dormia

Vida,
O santo trazia,
Uma gota de sangue vertia
Me diga como é que podia
Dia/noite, tanta agonia

Vida,
Que antes reluzia
Num copo de água, perdia
A cor, o cheiro, a mania
De sempre orar pelo dia

Vida,
Onde a sorte jazia,
Esquece o que antes existia
Tranforma o que o Sol refletia
Em noite, escura, vazia

14 de agosto de 2008

Sou feita da mais louca e perfumada sandice.

9 de agosto de 2008

Sangue da tua veia,
Se esvai por entre as minhas, se perde no meu liquido viçoso
Sangue esse que penetra tais entranhas
Causando um tonto, ilegítimo gozo.

Sangue da tua veia,
Permeia os sentidos, por onde passa
Vermelho-vivo, fervente,
Quase um obsceno torpor, desgraça.

Corrente árdega,
Deixa lânguido meu corpo,
Se dilui, de um ímpeto
Sangue esse, venenoso.

5 de julho de 2008

O incontestável desejo do olhar trocado naquele primeiro encontro, que logo te despe dos sentimentos e te larga a sós com os sentidos. Aquele olhar penetrante, que na incerteza da recíproca, vem e vai, ininterruptamente. Que na iminência de se perder no momento, desfoca. E que, no momento em que encontra o outro olhar, se contrai, e derrama uma lágrima.

19 de junho de 2008

Pra que serve essa coisa de mãos dadas, de passos análogos?
Pra que cantar o sentimento efêmero, o beijo dado?
Pra que esperar qualquer retorno, um olhar ao acaso?
Quando aquilo que te faz pensar, desejar
Não há, na verdade. Não há.

2 de junho de 2008

Torço, retorço..

_Até onde isso é certo, seu moço?
Viver assim tão longe dele..
_Menina, descansa.
Não é o fundo do poço,
Se tu não tivesse outro fim suposto
Taria na mesma: desgosto.
_Mas e agora, que faço?
Esse corte aberto, exposto..
_Não torça o pescoço,
Ele era...oposto.
_E como páro esse choro?
Sozinha não posso..
_A dor já já passa,
No tempo imposto..
_Desgraça..

29 de maio de 2008

Alguém te compreende o suficiente para que você se sinta acolhido, te provoca aquele sorriso que não se esvai do rosto até a hora em que você consegue parar de pensar e finalmente dormir..
Você se esquece das angústias da vida, da tristeza do mundo, pra ser egoísta e sentir sua alma se iluminar por alguns instantes.
Você sobe...até a última nuvem do céu.

Pra só então, despencar.

Seu coração não quer saber o motivo, mas sua cabeça sempre soube o quanto faltava para o desengano.
E assim se faz a queda..um imenso frio na barriga e idéias retiradas à força de dentro. A dúvida do que poderia ser o que nunca foi. A dor do equívoco, latente nas veias, no peito.
Um vento cortante, gelado.
Um amor irrisório.

4 de abril de 2008

Quero tua essência comigo,
Colocar ela num potinho
Pra que eu te leve à todo lugar.
Se assim fosse possível, te colocaria goela abaixo
Para que entrasse no meu ínfimo, íntimo, espaço
Teria você em minhas veias
Dentro do meu sistema,
Acompanhando meu passo.

3 de abril de 2008

Tua mão amarrada na minha, como se fosse à força
Sinto o peso da corda, o atrito que corta
Mas se puxo, não solta.
E assim ficamos,
Inertes à nossa vontade
Sem saber se vem, ou se volta.

31 de março de 2008

Peço

Que o Sol te aqueça na maioria, mas não em todas as manhãs.
Que o espelho te mostre a imperfeição do mundo.
Que o café seja suficiente, e nada mais.
Que o chão frio da rua te leve por tortuosos caminhos, ao topo.
Que suas mãos fiquem calejadas, mas que se acostume ao suor árduo.
Que fique exausto, mas não o suficiente para que se canse.
Que a Lua guie seu caminho na escuridão, mas que traga sombras.
Que compreenda a vida, mas nunca plenamente.

21 de fevereiro de 2008

Tentando enganar com palavras doces a grande confusão que meus olhos aparentam, por enxergar a realidade. Que minhas cordas vocais não suportam, revirando-se à menção de uma mentira mal contada. Que minhas costas não aguentam, pela força insuficiente de se manter eretas, quando queriam estar largadas em um canto qualquer. Que meu estômago finge não saber, regurgitando um outro motivo qualquer para tornar o áspero um pouco mais suave.

18 de fevereiro de 2008

Quando as dúvidas resolvem aparecer, não há Cristo que as tire da cabeça ou que acabe com aquela sensação de ansiedade intrínseca a elas.
Noites em claro atormentadas por pensamentos incessantes que tentam achar uma saída para se livrar do incômodo e angústia de uma dúvida..mas a única coisa que isso nos faz perceber é que não adianta quebrar a cabeça pensando que elas simplesmente não vão desaparecer. (e lá se foram mais 3 horas perdidas na madrugada que não serviram pra nada...)

10 de janeiro de 2008

Entrelinhas

Um livro inteiro por muitas vezes não causa o mesmo impacto que tem uma única frase.

"Dão de comer a quem tem fome e vestem os mendigos, mas suas próprias almas andam famintas e nuas."

Retirada do livro "O Retrato de Dorian Gray".