Copos D'água

Copos D'água

22 de julho de 2009

Ana era daquele tipo de mulher de flor no cabelo, mãos dóceis e voz suave. Gostava de sentar embaixo duma copa de árvore e ficar lá, ouvindo um pássaro qualquer enquanto lia um livo. Acho que podia fazer isso um dia todo, se quisesse. E Ana, como toda mulher, vaidosa que era, dizia ser bobeira de Vitor todos os elogios que ele insistia em repetir, às vezes dias a fio, sobre
o quão bela era.
_Pára com isso. -dizia- Não há assim mulher tão encantadora, nem alguém assim tão ingênuo a ponto de se enganar que haja. Se quer me tocar com tais palavras, pelo menos faça o favor de não tentá-lo todos os dias. As coisas repetidas assim tão facilmente perdem o valor.. Não quero ser uma bela-não-tão-bela daqui há algum tempo, pois assim é o que está fadado a acontecer. Se por acaso um beija-flor pousasse todos os dias na sua janela e ficasse lá por um bom tempo, tempo suficiente para que você pudesse o admirar plenamente, não haveria mais graça em fazê-lo. O beija-flor se tornaria algo corriqueiro, e passaria assim, a ser simplesmente parte da janela. Não quero que seus elogios sejam recorrentes como o beija-flor, nem que a beleza que eu possuo de fato, se torne como que rotina aos seus olhos.
E Ana assim se desfazia dos agrados, enquanto contrariava o coração.

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